PRAXE
Coimbra é a cidade das capas negras, do mondego, dos amores de perdição e principalmente a “Cidade da Saudade”, pois é aqui que se aprende o verdadeiro significado de Saudade, é aqui que aprendemos que Saudade é aquilo que fica depois do fim do curso, depois de deixarmos a faculdade, a Cabra e o Mondego para trás, Saudade é o que fica na memoria, os bons amigos, as noites académicas e as praxes, Saudade é o fim de algo (neste caso dos tempos académicos), mas é também o inicio de algo (de uma vida profissional para a qual certamente estaremos bem preparados).
Nesta cidade, entre muitas tradições existe uma especialmente importante, a Praxe, que é regulamentada pelo Código de Praxe.
De acordo com o Código de Praxe (artigo 1º), a Praxe Académica é o conjunto de usos e costumes tradicionalmente existentes entre os estudantes da Universidade de Coimbra e todos os que forem decretados pelo Conselho de Veteranos da Universidade de Coimbra, mas convém também referir que a praxe é praticada entre elementos de uma mesma sociedade (no nosso caso, entre tertúlias, sendo que cada caloiro é praxado pelo tertúlia que escolheu integrar) e de acordo com a hierarquia praxística, excluindo à partida todos aqueles que não concordarem com ela, porém esta exclusão limita-se apenas às cerimonias ditas praxísticas, uma vez que essas atividades apenas fazem sentido para aqueles que seguem os preceitos da Praxe e não a atividades académicas (como por exemplo: festas, conferencias, etc.)
Temos ainda que realçar o facto de existir Praxe e não Praxes, e que esta pressupõe uma integração dos Caloiros e não a humilhação dos mesmos. Desta forma podemos referir que na Praxe temos os caloiros (recém-chegados) e os doutores (aqueles que tem hierarquia igual ou superior a “semi-puto”). Porém ser caloiro é muito mais do que ser um recém-chegado, ser caloiro é cair de paraquedas numa cidade longe dos amigos e da família, é ser integrado num mundo encantado! Ser caloiro é estar sujeito a situações hilariantes (tais como: andar de pijama pela cidade, contar as monumentais em numeração grega, romana, russa, e em toda a numeração que as doutoras se lembrarem, cantar Fanny nas passadeiras com o semáforo está vermelho, sim porque na nossa tertúlia a segurança está sempre em primeiro lugar :), etc.). Enfim, memorias que ficam e laços que se criam para o resto da vida.
Ser caloiro é ainda andar com latas atadas as pernas em direção ao mondego, no cortejo da latada, e aguardar ansiosamente pelo momento do batismo, onde nos são atribuídos os tão aguardados nomes de praxe, é ir para a noite numa quinta-feira académica e no dia a seguir ter aula de constitucional as 8 da manhã. Ser caloiro é estar disponível para os amigos que se faz e acima de tudo para a Tertúlia que se integra….
Associado à praxe académica está o mote “Dura Praxis, Sed Praxis” (a praxe é dura, mas é a praxe!), baseada no mote latino “Dura Lex, Sed Lex” (porque o direito está em todos os simples actos da vida, como se aprende em introdução). Erradamente entendeu-se tal mote como a expressão de um conjunto de prática relativas a caloiros e que se caracterizava (e devia caracterizar) pela dureza (física e/ou psicológica), quando, na verdade, e fiel à inspiração do mote jurídico, significava que a Praxe era "dura" porque é igualitária, porque trata todos de igual forma, porque todos são iguais perante a lei (lei académica), daqui advém também a celebre expressão “o caloiro é solidário” (e é assim que deve ser, o caloiro tem que ser solidário perante os seus semelhantes, em qualquer situação da vida académica mas principalmente na praxe).
É ainda de referir que a Praxe se subdivide em 4 períodos, e que em dois desses períodos é possível desfrutar de dois grandes eventos, a Festa das Latas e a Queima das Fitas;
- o 1º período da Praxe vai de 3 dias antes da abertura oficial da UC a 3 dias após o início das férias de Natal, aqui todos os estudantes podem disfrutar da Festa das Latas e Imposição de Insígnias, que é a primeira festa académica dos recém-chegados a Coimbra, que se realiza no mês de Outubro, a Latada (como é chamada) tem o seu inicio com a Serenata, que os caloiros ouvem de baixo da capa dos seus padrinhos/madrinhas (não esqueçam que a praxe é sexista), e termina com o cortejo, no qual os caloiros desfilam com roupas escolhidas pelos seus doutores, aproveitando para enviar mensagens satíricas à sociedade. À noite, na outra margem do rio, no Parque da Canção, realizam-se concertos, onde atendem os estudantes e os não estudantes da UC.
- o 2º período da Praxe vai de 3 dias antes do fim das Férias de Natal a 3 dias após o início das Férias da Páscoa;
- o 3º período da Praxe vai de 3 dias antes do fim das Férias da Páscoa ao Início do Cortejo da Queima das Fitas;
- o 4º período vai do dia do Cortejo da Queima das Fitas ao dia da Bênção das Pastas;
É entre o 3º e o 4º período que podemos disfrutar da já referida Queima das Fitas, que se realiza em Maio e é a explosão delirante da Academia, consistindo para os Fitados e os Veteranos a celebração da sua última jornada universitária, ou seja, o derradeiro trajeto da vivência coimbrã. Os festejos da Queima das Fitas consistem sobretudo no seu programa tradicional: a Serenata Monumental, na qual é traçada a capa a todos os caloiros que trajam pela primeira vez; o Sarau de Gala; o Baile de Gala das Faculdades; a Garraiada; a Récita; a Venda da Pasta: a Queima do Grelo; o Cortejo onde desfilam os carros alegóricos preparados pelos finalistas, ao longo de todo o ano; o Chá Dançante e as Noites de Parque, onde é possível disfrutarem de concertos fantásticos e da companhia dos amigos inseparáveis!
Outro elemento importante da praxe, e que ainda não foi aqui referido, são insígnias que o caloiro vai ter que reconhecer convenientemente.
As chamadas “insígnias da praxe académica” ocupam um lugar de relevo na cultura estudantil universitária conimbricense e povoam diversos campos do imaginário simbólico e da identidade visual escolar.
De acordo com o artigo 97º do Código de Praxe, as insígnias consideram-se na Praxe quando:
“1. MOCA - For de pau e não tiver saliências na cabeça;
2. COLHER - For de pau e tiver escrito na parte interior “DURA PRAXIS SED PRAXIS”, podendo ainda ter qualquer desenho alusivo à vida académica;
3. TESOURA - Não tiver bicos nem for desmontável; 4. As Insígnias da PRAXE podem ser de qualquer tamanho;
5. Na falta de moca esta poderá ser substituída por um pau de fósforo com a cabeça por queimar.”
MOCA: tudo indica que o uso da moca de tipo académico remonta às origens da universidade. Na cultura popular e escolar a moca está diretamente associada à virilidade. A sua anatomia fálica remete para o pénis ereto e diversos vocábulos populares expressam em vernáculo a ideia de coito, como “mocar” e “dar uma mocada”. Em sentido algo contrário, assinala-se a expressão “estar com uma grande moca”, isto é sonolento ou entorpecido, analogia que remete para o desequilíbrio entre a cabeça e o cabo da moca. Outros termos regionais contíguos são “porra”, “porrada”, “porro”, “porrete”, “porretada” e “cacete”, alguns deles com sentido fálico explícito tanto na cultura oral portuguesa como na brasileira.
Usada indistintamente por alunos de todos os anos dos cursos, a moca chegou à entrada do século XX como arma pessoal de defesa, arma de caça e bastão de poder dos veteranos. A moca era considerada artefacto sagrado e era habitualmente guardada pelos académicos nos seus quartos de dormir.
COLHER DE PAU: as mais apreciadas pelos estudantes da Universidade de Coimbra são as de fabrico caseiro, manufaturadas pelos artesãos de Lorvão e Arganil. Existem de todos os tamanhos, desde a colherzinha ornamental, à de tamanho médio e ao gigantesco colherão. Símbolo gastronómico por excelência e apesar das desconfianças exprimidas pelos agentes sanitários da União Europeia, a colher de pau continua a ter lugar garantido nas comunidades estudantis e nas confrarias gastronómicas.
TESOURA: a tonsura de caloiros é praticada na Universidade de Coimbra desde praticamente as origens. Não caberia à Universidade de Coimbra a invenção desta prática punitiva, que já se encontrava instituída pelo Direito canónico e pelo direito criminal peninsular.
Por fim só temos a dizer que, lançamos o desafio a todas as caloirinhas que vão iniciar a sua vida académica este ano, que se juntem à Tertúlia Fénix, onde a Praxe é vivida em toda a sua plenitude e as Tradições Coimbrãs respeitadas. Fica ao vosso critério escolher e tomar a melhor opção! :) :*
Símbolos da Tertúlia
Aspetos importantes
Perguntas mais frequentes sobre a Praxe:
1 – os caloiros podem ser pintados ou gozados?
R: não, não é permitido aos doutores gozarem e pintarem os caloiros.
2 –enquanto caloiros podemos ser mobilizados dentro do nosso horário lectivo para irmos a uma praxe?
R: não os caloiros não podem ser mobilizados para a praxe dentro do horário letivo.
3 –a partir de que horas pode o caloiro ser sujeito a praxe de trupe?
R: de acordo com o Código de Praxe, o caloiro está sujeito a praxe de trupe das zero horas (00hoom) de um dia até ao toque matutino da Cabra (salvo algumas excepções).
4 – os caloiros podem usar Capa e Batina?
R: não é vedado ao caloiros o uso da Capa e da Batina até ao dia da Serenata Monumental; aqueles que não estejam integrados na praxe podem usar Capa e Batina, nos mesmos termos que os caloiros normais que estejam.
…
Caso tenham mais perguntas para além daquelas que foram aqui perguntadas e respondidas agradecemos que as façam!... :)